Reportagem, foto e edição: Luiz Sérgio Dibe
Adotar a chamada Dieta Mediterrânea, hábito alimentar o qual tem sido associado nos últimos anos à proteção contra o diabetes e as doenças cardiovasculares, também pode ser uma decisão positiva para a manutenção de uma composição corporal mais saudável, com melhor preservação dos ossos e dos músculos, especialmente na região da coluna lombar. Um estudo realizado no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Hormônios e Saúde da Mulher (Hormona) investigou a associação entre massa óssea e muscular com a maior ou menor adesão ao padrão de dieta estilo mediterrânea, através da avaliação da ingestão de grupos alimentares como cereais, verduras e legumes, frutas, produtos lácteos, peixe, carnes, vinho tinto e azeite. Os resultados estão publicados na última edição da Climateric, revista vinculada à International Menopause Association, em artigo intitulado Mediterranean diet is associated with bone mineral density and muscle mass in postmenopausal women, de autoria da pós-doutoranda Thaís Rasia da Silva, nutricionista e pesquisadora do INCT.
O estudo incluiu 105 mulheres saudáveis com idade média de 55 anos, residentes no Rio Grande do Sul, as quais passaram pela menopausa há pelo menos um ano. A análise envolveu questionários onde as participantes descreveram o que comeram no último mês e exames realizados para medir a densidade mineral óssea, a gordura corporal total e a massa magra apendicular, a fim de comparar os resultados laboratoriais com o modelo da alimentação de cada uma das voluntárias. “As participantes que tinham uma dieta mais parecida com a mediterrânea apresentaram melhor composição corporal, com maior massa muscular e maior massa óssea, independentemente de outros fatores como prática de atividade física, tempo de menopausa e histórico de uso de terapia de reposição hormonal”, destaca Thaís.
Conforme a pesquisadora, o estudo também constatou que as mulheres com melhor adesão à Dieta Mediterrânea apresentaram maior ingestão de nutrientes como cálcio e magnésio, os quais agem diretamente na formação e reabsorção óssea e também produzem efeito positivo sobre o desempenho muscular. “Além destes, outros nutrientes com ação antioxidante, como vitamina A e selênio, também foram consumidos em maior quantidade, conferindo proteção ao estresse oxidativo e reduzindo a perda de massa muscular e óssea, o que é comum após a menopausa”, relata a autora do artigo oriundo da proposta de pós-doutorado supervisionada pela Professora Doutora Poli Mara Spritzer (UFRGS), endocrinologista e coordenadora-geral do INCT Hormona, que tem sede no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Poli Mara explica que a menopausa é caracterizada pela diminuição da produção de estrogênios pelos ovários e tem sido associada ao desenvolvimento de osteoporose e ao declínio do volume de massa óssea e muscular, o que aumenta o risco para ocorrência de acidentes, com traumas musculares e fraturas ósseas além de reduzir a autonomia e qualidade de vida das pacientes. “A osteoporose é uma doença crônica e silenciosa, que pode levar à diminuição da qualidade de vida e aumento no risco de mortalidade, estima-se no Brasil que 15 a 33% das mulheres após a menopausa apresentam osteoporose, portanto pode ser considerada um problema de saúde pública”, alerta a líder de pesquisas no campo de hormônios e saúde da mulher.
Para as cientistas do INCT Hormona, as evidências as quais foram apresentadas durante o Congresso da Sociedade Internacional de Endocrinologia (ENDO 2018), em Chicago/USA, indicam que a adesão à Dieta Mediterrânea pode constituir-se em uma estratégia não farmacológica para prevenção contra o desenvolvimento de osteoporose e a ocorrência de quedas em mulheres após a menopausa. As pesquisadoras ressaltam, no entanto, que novos estudos são necessários para verificar com mais precisão a relação estabelecida em seu estudo. “Mesmo assim é possível afirmar que este padrão alimentar, quando combinado com outros hábitos de estilo de vida saudável, produz resultados positivos para manutenção da saúde”, conclui Thaís Rasia da Silva.
A pesquisadora Thaís Rasia da Silva, autora do artigo que associa a adesão à Dieta Mediterrânea com a preservação das estruturas óssea e muscular conta que este padrão alimentar é caracterizado por um elevado consumo de frutas, vegetais, cereais integrais, oleaginosas e azeite de oliva como fonte principal de gordura. Além disso, também inclui o consumo moderado de peixes, ovos, queijos e iogurtes, admitindo baixo consumo de carne vermelha e doces.
Ela defende que a adoção deste tipo de hábito alimentar ou um modelo mais próximo do que tem sido recomendado como saudável pode ocorrer de forma gradual e de acordo com as condições socioeconômicas e culturais de cada pessoa. “Nosso estudo não conseguiu avaliar o consumo de oleaginosas entre as participantes, pois tratando-se de alimentos mais caros, não é acessível para boa parte da nossa população. Contudo, nenhum componente isolado da dieta foi associado com a massa óssea e muscular nas nossas análises. Diante disso, acreditamos que o padrão da dieta como um todo é mais importante do que algum dos alimentos isoladamente”, observa.
Thaís, por fim, pondera que seguir um padrão de dieta que inclua uma quantidade adequada de nutrientes e compostos bioativos encontrados principalmente nas frutas e vegetais, “além de garantir um consumo adequado de proteína e cálcio, são atitudes importantes para a obtenção de uma melhor composição corporal, levando a melhor qualidade de vida após a menopausa”, define a pesquisadora do INCT Hormona.
Reportagem, foto e edição: Luiz Sérgio Dibe