No dia 30 de setembro, quinta-feira, às 19h foi transmitido de forma gratuita, pelo Youtube, a segunda live que compõe o Projeto Social Tabu das Cores da Fundmed.
No #SetembroAmarelo, debateu-se sobre como a pandemia impactou nas taxas de suicídio considerando, sobretudo, o aumento de fatores de riscos, tais como perda de emprego, trauma ou abuso, transtornos mentais e barreiras ao acesso a cuidados de saúde.
A segunda apresentação que integra o Projeto Tabu das Cores contou com a presença do professor de psiquiatria, Dr. Ives Cavalcante Passos e do pesquisador da área, Dr. Thyago Antonelli Salgado.
Confira abaixo a LIVE:
O tema apesar de sensível, foi discutido visando a propagar conhecimento e, principalmente, compartilhar formas adequadas de tratamento e prevenção. Inicialmente, foram apresentados dados de como a pandemia impactou nas taxas de suicídio.
De acordo com os gráficos, existem, anualmente, 800 mil mortes por suicídio em todo mundo, segundo a OMS. No Brasil, quatro vezes mais homens morrem por suicídio do que mulheres, embora a tentativa seja mais frequente no gênero feminino. Além disso, importante sublinhar que o Rio Grande do Sul é um dos Estados brasileiros com uma das maiores taxas de suicídio.
Para o Dr. Ives, o suicídio é um evento multifatorial, pois pode envolver desde histórico familiar, transtorno por uso de substâncias, eventos estressantes de vida, até mesmo fatores sociais, culturais e econômicos. Por sua vez, o Dr. Thyago estabeleceu aspectos associativos entre solidão e saúde mental, apresentando e explicando termos bastante difundidos em tempos de pandemia, tais como, distanciamento social, isolamento social, solidão e solitude.
Sendo assim, visando a estabelecer pontes que aproximem a sociedade de importantes pautas que envolvam a saúde coletiva, separamos algumas perguntas e respostas abordadas durante o evento:
Por que o Rio Grande do Sul apresenta umas das maiores taxas de suicídio no Brasil?
Segundo o Dr. Ives Cavalcante Passos existem alguns fenômenos que podem explicar esse maior índice. No RS, particularmente, há pessoas de origens diferentes. Isso pode, algumas vezes, atrapalhar a conexão entre os indivíduos. Outro ponto, é a questão climática. No inverno, em geral, há maiores taxas de suicídio, além disso, a exposição a luz é menor. Logo, depende das especificidades de cada estado. É um fenômeno multifatorial.
Como podemos estimular o desenvolvimento de resiliência durante o cenário pandêmico?
De acordo com o Dr. Ives, esse período da pandemia, trouxe muitos prejuízos em diversos sentidos. É um conjunto de estressores que surgiram na vida das pessoas e que não havia anteriormente. Na visão do Dr. Ives, embora a pandemia tenha sido um momento de crise, ela também foi um momento de oportunidades: tivemos a expansão do universo digital e da nossa conexão. Reuniões online, conversas, interações foram um dos fatores que ajudaram as pessoas a manter as suas rotinas, até mesmo, o trabalho remoto.
Por isso, manter uma rotina ajuda as pessoas a se organizar e ter uma maior resiliência. Denomina-se de ativação comportamental, a estratégia de construir uma rotina com atividades de lazer. Tal fato, aumenta a sensação de prazer e aumenta também a resiliência da pessoa. Porém, o Dr. Ives enfatiza que ao sentir sofrimento mental significativo é necessário buscar atendimento do profissional da saúde mental, ou seja, um psiquiatra ou um psicólogo.
Quais seriam os fatores que estariam envolvidos na cronificação da solidão?
Nesse sentido, o Dr. Thyago mencionou que a solidão pode ser algo adaptativo. Explicou que, segundo estudos realizados, é necessário entender a interação social como uma necessidade básica do ser humano. Então, assim como sentimos sede para se hidratar, assim como sentimos fome para se alimentar, sentimos também solidão como indicativo e estímulo para que a gente produza mais interações sociais e assim possa ter uma melhor qualidade de vida. Ademais, o Dr. Thyago pontuou a anedonia social, como um dos grandes desafios atuais, o qual corresponde a dificuldade de sentir prazer nas coisas, mais especificamente, quando a pessoa sente pouco prazer nas interações sociais. Esses indivíduos apresentam maior probabilidade de desenvolver a solidão crônica, porque, geralmente, não possuem esse incentivo da solidão de querer ter uma relação mais prazerosa.
A exposição da mídia de casos de suicídio pode impactar de forma positiva ou gerar efeitos negativos à saúde mental da população?
Para o Dr. Ives, tudo depende da quantidade de acessos nas mídias sociais. Obviamente, checar uma ou duas vezes é importante para se informar sobre as medidas que são colocadas para cuidados de saúde. Contudo, se a pessoa fica constantemente em frente à televisão, o Facebook ou o Twitter, buscando notícias relacionadas à pandemia, há o risco de plantar um cenário quase que catastrófico na mente, levando a sintomas de ansiedade ou sofrimento mental.
Portanto, a questão é saber como falar. Dr. Ives, ressaltou que, há, inclusive, um manual da OMS de como a mídia deve abordar o suicídio. Sendo assim, é importante falar para que se ganhe percepção do tema, mas também deve-se saber como falar para que o impacto seja positivo.
O que não dizer para uma pessoa que pensa em suicídio?
Na visão do Dr. Ives, a resposta seria: não colocar o suicídio como uma saída romantizada às angustias relacionadas à vida, não falar sobre métodos de como tentar suicídio, não invadir muito a privacidade de pessoas que não se tenha uma real intimidade. Por isso, pontuou que a postura mais adequada seria transmitir um senso de esperança, ter uma escuta ativa e dizer que o suicídio tem tratamento.
Como atenuar esse impacto negativo causado pela pandemia, de forma preventiva, no meio corporativo, pensando na qualidade mental dos colaboradores?
Para o Dr. Ives, há uma série de alternativas. A primeira delas são campanhas que abordem a prevenção do suicídio, que abordem a identificação e, sobretudo, que mostrem que o comportamento suicida tem um tratamento e o tratamento é efetivo. Segundo ponto, são adotar medidas de barreira que evitem esse tipo de situação. Além disso, há uma série de aplicativos que ajudam a lidar com sintomas de depressão e a ideação suicida.
Por sua vez, o Dr. Thyago ressaltou que é necessário deixar o campo aberto dentro das empresas para evitar a solidão, ou seja, deixar que os funcionários saibam que podem falar sobre as suas emoções. As empresas também podem contratar pessoas especializadas, como um psicólogo ou um psiquiatra. Além disso, é importante que as empresas desenvolvam questionários anônimos para que se tenha dimensão de como está a saúde mental dos funcionários e quais alternativas adotar.
Centro de Valorização da Vida (CVV). Ligue: 188
Para auxiliar pessoas com sofrimento mental: www.cvv.org.br
Aplicativo que conecta pessoas de todos os lugares do mundo, visando a interação durante a quarentena: https://quarantinechat.com/
O Tabu das Cores é um projeto social da FUNDMED, que aborda temas relacionados a campanhas mensais de conscientização sobre questões de saúde, indispensáveis para a sociedade. Nos próximos meses, acontecerão palestras relativas ao Outubro Rosa, dedicado à saúde da mulher, ao Novembro Azul, sobre a saúde do homem, e ao Dezembro Vermelho, mês de conscientização e combate a AIDS.
Assista as lives anteriores: playlist completa está disponível aqui.
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