Depois de dois anos de edições virtuais em função da pandemia, o Unimúsica volta a fazer do campus central da UFRGS um lugar vivo de música, como era a proposta original do projeto criado pelo Departamento de Difusão Cultural da Pró-Reitoria de Extensão da universidade em 1981. De 17 a 20 de novembro de 2022, o festival “rasuras transversais” apresenta um apanhado do cenário contemporâneo da diáspora africana na música brasileira, com uma programação que combina shows no Salão de Atos, apresentações ao ar livre e encontros com os artistas convidados.
COMO PARTICIPAR
A retirada de ingressos para os shows do Salão de Atos da UFRGS, mediante doação de 1kg de alimento não perecível, ocorre a partir do dia 10 de novembro (exceto final de semana e feriado), das 8h às 20h, no Centro Cultural da UFRGS (Rua Eng. Luiz Englert, 333 – campus central da UFRGS). Para as apresentações ao ar livre, a entrada é franca.
PROGRAMAÇÃO
Conheça a programação completa: www.ufrgs.br/difusaocultural/unimusica-2022.
O PROJETO
O Unimúsica 2022 é uma celebração da ancestralidade negra que (per)forma o Brasil, plasmada em sons, palavras e gingas. É também um convite à necessária tomada de consciência de nossa conexão com o continente africano, que não é mítica ou produto apenas da memória, mas resultado de um processo de interação desse tempo.
A programação apresenta um apanhado do cenário contemporâneo da diáspora africana na música brasileira, e aposta na ousadia, na experimentação e na chamada de novos protagonistas para esse espaço. Entendendo essas musicalidades para além de um conjunto de gêneros ou de territórios específicos, persegue o movimento contínuo e os dribles que constituem o próprio vai e vem da diáspora.
O título “rasuras transversais” assinala uma contranarrativa, a proposta de uma marca audível que busca contribuir para a transformação de sentidos impostos pelo colonialismo. A rasura, aqui, é lida em seu potencial de transgressão e de intervenção na lógica eurocentrada do bom e do belo.
Nesse percurso, a música se coloca como um meio de invenção de olhares, escutas, dispositivos, tecnologias e modos de (r)existência. E se é no corpo – unidade coletiva de existência política e lugar primordial da memória negra – que a música se dá, então o Unimúsica 2022 se propõe a corporificar a diversidade de demandas sociais e dissidências sonoras, bem como aquilo que há de poético no movimento, na palavra e na reza.
AMARO FREITAS
O músico pernambucano é um dos principais nomes da cena atual do jazz, reconhecido como revelação internacional por “uma abordagem do teclado tão única que é surpreendente” (Downbeat). Tem circulado em turnês pelo Brasil e exterior, participando de importantes festivais, e figura na lista “10 Best Jazz Songs of 2021” da plataforma Spotify, com a música “Vila Bela”. Seu pianismo é capaz de apresentar melodias marcantes a grooves mântricos, temas que trazem um importante aceno à diáspora africana. Para o palco do Salão de Atos da UFRGS, traz “Sankofa”, show do seu terceiro disco, citado em listas nacionais e internacionais de “melhores do ano” em 2021. O trabalho teve a colaboração de Jean Elton (baixo) e Hugo Medeiros (bateria), que formam o Amaro Freitas Trio desde 2015.
BAMBAS DA ORGIA
Mais antiga escola de samba de Porto Alegre, a Sociedade Beneficente Cultural Bambas da Orgia foi fundada em 6 de maio de 1940. Desde então, recebeu 21 títulos, sendo uma das mais premiadas no carnaval da cidade. Adotando as cores azul e branco desde a sua criação, em 1977, inspirada na Portela, incorporou como símbolo a imponente e majestosa Águia Real, símbolo da agremiação carioca. Em 2023, a Bambas resgata essa herança na avenida e homenageia o centenário da Portela, reafirmando seu compromisso com a ancestralidade e as raízes africanas dessa manifestação artística fundamental da cultura brasileira. Enquanto o carnaval não chega, a escola vem à UFRGS compartilhar esse e outros sambas de sua história com o público do Unimúsica.
COLETIVO TURMALINA
Desde 2017, o coletivo Turmalina, de Porto Alegre, trabalha com expressões artísticas no campo visual e sonoro, propostas pela ótica das populações negras. Compreendendo culturas de raízes africanas em geral como ferramenta de afirmação da identidade de um povo, o grupo coloca em evidência a musicalidade enquanto mecanismo de resistência social, como resposta à marginalização, apropriação e apagamento de uma história. Representam o coletivo na programação do Unimúsica, com pesquisas bastante diversas entre si, Turva, Felix, La Twins e Gugu.
CRISTAL
Cristal iniciou sua carreira nos versos da poesia falada, em slams pelas ruas de Porto Alegre, aos 15 anos de idade. Em 2017, foi campeã da etapa regional e representou o estado pela primeira vez no Slam BR – Campeonato Nacional de Poesia Falada, realizado em São Paulo. O ano de 2019 marca sua entrada no mundo da música. Estreou no rap com seu primeiro single, “Rude Girl”, produzido por MDN Beatz, falando de autoestima preta e o recorte racial do estado. No ano seguinte, ganhou o prêmio “SH!T DE OURO” do Canal The Rap Shit, como artista revelação. Em seu show no Unimúsica, Cristal apresenta seu EP “Quartzo”, ao lado de MDN Beatz, e divide o palco com seu parceiro Zudizilla.
IMPERADORES DO SAMBA
Fundada em 19 de janeiro de 1959, a Imperadores do Samba é uma das principais escolas de samba de Porto Alegre, com mais de duas dezenas de títulos através de seus mais de sessenta anos, e é a atual campeã do carnaval. Carinhosamente conhecida como a “Escola do Povo”, a Imperadores representa, como seus próprios torcedores afirmam, “a resistência do samba”, atuando como uma defensora da cultura popular na cidade. A quadra da escola também é palco para trabalhos sociais junto à cidade, como por exemplo a campanha de vacinação contra a COVID-19 e a feira “Quilombo Imperador”.
JUP DO BAIRRO
Cantora e compositora, a paulistana Jup do Bairro lançou seu primeiro EP, “Corpo sem juízo”, em 2020. Com direção musical de BADSISTA e feats de Deize Tigrona, Rico Dalasam, Linn da Quebrada e Mulambo, o projeto rendeu a Jup o título de Revelação do Ano pelo Prêmio Multishow e duas indicações no WME. Além da carreira musical, Jup também teve sua versatilidade artística explorada pelo Canal Brasil (Globosat), que produziu duas temporadas do talk-show “TransMissão”, apresentado por Jup em parceria com Linn da Quebrada. No Unimúsica, acompanhada por Mulambo (voz de apoio) e BADSISTA (DJ), Jup apresenta um repertório fundamentado no EP e também com algumas faixas soltas – e tão aclamadas quanto -, como “Sinfonia do Corpo” e “Sou Eu”.
TIGANÁ SANTANA
Compositor, cantor, instrumentista, poeta, produtor musical, diretor artístico, curador, pesquisador, professor e tradutor, Tiganá Santana nasceu em Salvador, na Bahia. Após o lançamento dos seus três primeiros álbuns, foi eleito um dos dez músicos fundamentais da música atual brasileira pela conceituada revista inglesa especializada em música Songlines. Pela primeira vez em Porto Alegre, no Unimúsica, o artista apresenta o show do álbum “Vida-Código” (2020). Gravado 10 anos após o seu primeiro disco, possui uma textura sonora diferente dos álbuns anteriores, com a presença um pouco mais significativa de instrumentos eletrônicos ao lado dos acústicos. As canções que integram o repertório trazem construções textuais em português, francês, kikongo e espanhol. “Vida-Código” constou entre os 20 melhores álbuns lançados no mundo, de abril a junho de 2020, segundo o World Music Charts Europe, e já foi eleito um dos 25 melhores álbuns de 2020, de acordo com a respeitável rádio francesa Le Grigri.
ZUDIZILLA
Rapper natural de Pelotas-RS, Zudizilla vem abrindo novos espaços e rumos com uma produção arrojada e organicamente conectada às principais tendências sonoras do momento. Flerta com o jazz e a cultura hip hop, mas também bebe de referências e ideias da música popular brasileira. Neste show, ele apresenta “Zulu Vol. 2: De Cesar a Cristo” (2022), seu novo álbum de inéditas, que foi produzido pelo próprio artista junto a uma seleção de beatmakers e participações, como as de Emicida, Coruja BC1 e Joabe Reis. O ouvinte é transportado para ruas de Pelotas e outros territórios que marcaram as situações que são narradas e musicadas por Zudizilla. Algumas das músicas do disco fazem parte da trilha sonora original do curta-metragem “Vozes do Silêncio”, que ganha exibição na Sala Redenção, cinema universitário, na programação do Unimúsica.
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